Corrente Mostra 2011 – #03


Foto: Tetê Nassif

Foto: Tetê Nassif

O observatório Fora do Eixo “Música Independente e Circulação” reuniu 14 pessoas para uma reflexão sobre esse tema. Estavam presentes integrantes das bandas locais Danateia Rock, Mekanos, K2, Leo Domingues, Nikka, Havanna e também da banda Fóssil (Fortaleza – CE).

Pedro Cezar (banda K2) fez uma breve explanação sobre o surgimento do Coletivo Corrente Cultural. Diante da falta de espaço e políticas públicas voltadas para o cenário musical, carência de especialização nessa área – tanto na cidade quanto nas outras mais próximas – e, ainda, diante da forte atividade turística voltada para os idosos, fez-se necessário uma organização coletiva para modificar.

Ainda que Poços fosse reconhecida como um “celeiro de artistas”, não havia espaço para os mesmos, os quais acabavam indo para fora da cidade ou investindo apenas em bandas covers. Assim, o coletivo veio para abarcar as necessidades vigentes e seus principais objetivos são: modificar a cabeça dos artistas, bem como do público; modificar a visão da Prefeitura; da iniciativa privada e, por fim, mudar também a “cabeça” dos donos de casas de shows.

Após a apresentação das demandas e ambições acima comentadas, foi a vez de Eric (banda Fóssil – Pedagogo, Educador Social e Radialista) dar o seu depoimento sobre sua visão das problemáticas enfrentadas. Falou a respeito de vários pontos que reformulam a concepção do músico e seu trabalho na sociedade. Conceitos atuais como autogestão de carreira, e outros como intercâmbio e mobilização com a iniciativa pública e privada, já difundidos em outras profissões, agora ganham significado próprio e essencial dentro da vida do músico, que além de artista começa a se enxergar como empreendedor do seu próprio negócio.

Embora em algum momento os artistas passem por “crise de identidade” – exemplo: “sou mais produtor do que músico” – devem ter a consciência de que o verdadeiro artista de hoje em dia cria ramificações de seu trabalho, mas isso não quer dizer que deixe de ser o que é. O importante é “galerizar”, isto é, trocar serviços.

Eric ainda frisou a importância da rádio como meio de divulgação e acessibilidade local, pois mesmo que a internet seja muito interessante, “não é o quintal de casa ainda”. Também apontou que o telefone é um caminho ainda melhor de contato devido a ligação direta com a pessoa interessada em estar financiando, patrocinando, apoiando ou oferecendo o suporte necessário para a realização de um projeto.

Outro destaque foi para a importância dos editais nacionais, estaduais e municipais; nos quais o artista deve estar sempre “antenado” e se inscrevendo. Nos casos em que o mesmo quer levantar uma verba para realização de um projeto, já saber qual a funcionalidade de um edital, como são formulados e apresentados, é fundamental para adaptar um modelo para campanhas de arrecadação de fundos no financiamento estrutural do artista, seja para circulação, escoamento e divulgação, manifestação etc.

Depois foi a vez de as outras bandas presentes darem seus depoimentos: a galera da Mekanos comentou que embora cada integrante quisesse seguir para um lado, isto é, se formar no que escolhessem – e isso envolvia caminhos diferentes – dar continuidade à banda sempre foi importante e um consenso. Os membros presentes da banda Havanna ainda não tinham parado para refletir exatamente sobre os seus reais propósitos, mesmo porque ficaram desfalcados algumas vezes devido a saída de alguns músicos; mas atualmente, sobretudo depois que Renan (integrante do coletivo) chegou para a formação ficar completa, muita coisa mudou e todos tem um objetivo em comum: investir no seu próprio trabalho. Fernanda (banda Nikka) comentou que ainda há muito que amadurecer, pois o trabalho autoral ainda é recente – embora queiram continuar fortalecendo essa frente – mas querem também continuar tocando bastante cover, até mesmo para poderem se aperfeiçoar. Renatinho falou sobre sua antiga banda e o rompimento com a mesma, pois era extremamente dependente dos outros integrantes, já que era vocalista e não sabia tocar nenhum instrumento. Ao entrar em contato com o Corrente Cultural viu possibilidades de criar um trabalho próprio, mas ainda está explorando territórios. Leo Domingues disse que tocava cover em botecos, já tinha algumas criações próprias, mas que acabou se acomodando. No entanto, com o Corrente viu possibilidades de dar voz ao seu trabalho autoral. Pedrinho e Diego (banda K2) também comentaram sobre suas experiências, sobre o modo como enxergavam o cenário musical antes e como enxergam hoje, isto é, de forma muito mais madura e consciente de que a autogestão é de extrema importância.

O encerramento se deu com os agradecimentos de Pedro Cezar, em nome do coletivo, ressaltando o quão é gratificante compartilhar experiências e conhecer a realidade de outros locais. Eric devolveu a palavra dizendo que ao mesmo tempo em que trouxe questionamentos, também estará levando consigo vários outros. Deixou como mensagem que tudo deve ser feito com amor e que cada um deve fazer aquilo que realmente acredita, isto é, não se deve permitir ser frustrado – “o que eu tenho é minha pele, não sou o que visto”.