Corrente Mostra 2011 – #05


E dá-lhe mais festival Corrente Mostra 2011, chegando no seu 5º dia de apresentações e conteúdo transversal.

E se os shows e debates foram altamente construtivos, nada mais justo que uma pausinha para também dar vazão à criatividade de outra forma. E foi isso que aconteceu na Oficina “Uso Criativo de Materiais Recicláveis” coordenada por Tetê Nassif, artista plástica e integrante do coletivo. Em meio a objetos reutilizáveis, os participantes se depararam com um espaço de livre criação: sem nada premeditado ou sugerido fizeram suas obras de arte; desconstruindo padrões. Com um som ao fundo, todos ficaram à vontade e cada um mergulhou na atividade a sua maneira, realizando desde colagens e recortes até pinturas com a diversidade posta à mesa. A oficina aconteceu no período da tarde e contou com a infraestrutura oferecida pelo Sesc Poços, um dos maiores parceiros do Coletivo Corrente Cultural e do festival Corrente Mostra.


À noite, a empreitada musical tomou novo fôlego e o Espaço Cultural da Urca abriu novamente as portas para a música independente. O rapper China Trindad foi a primeira atração da noite de terça-feira, apresentando canções do seu EP Ela’s lançado no final de 2010. China é faceiro, humano, tem o carisma essencial para a profissão e tem talento de sobra na arte que se propõe a fazer – Rap Secular em fusão com o Gospel. Nas poltronas, um público entusiasmado que interagiu constantemente com o show, seja cantando os refrões de cada rap ou gesticulando conforme a canção – como na maré de braços para cima durante a música “Com o Senhor”, que contou com a participação do rapper Jhota Settmus.

Trindad, performático durante toda a apresentação, ainda convidou amigos do Hip Hop, como DJ Mancha e LeoPac para as músicas no palco. Todas as parcerias pareciam mesmo anos de amizade, ritmados e entrosados nas poesias do Rap. A apresentação foi o fechamento de uma série de eventos que comporam o Corrente Mostra, aproximando, dialogando e abrindo caminho para o Hip Hop e a poesia urbana, coletivando-os.

Enquanto a “troca de palco” se realizava para o próximo show, via-se pequenos grupos que se ajuntavam e se somavam disputando olhares sob os escritos do Varal da Arte. A poesia literária foi posta novamente na forma de três murais na entrada do teatro e era impossível passar por ali sem uma espiada nos poemas e contos de escritores poçoscaldenses e de outras cidades mais longínquas, como Neo One Eon e seus trabalhos diretamente de Porto Alegre-RS, para não citar Escobar Franelas da capital paulista, ambos artistas parceiros da Fora do Eixo Letras.

Para chamar os músicos da segunda banda da noite, solos de sax em jazz experimental que eles mesmos trouxeram na mochila e soltaram no sampler. A Lisabi (Campinas-SP), é meio assim, desprovida de qualquer previsibilidade. Na dissonância de guitarras, baixo endiabrado, bateria acelerada, e de trompetes tão quanto todo o resto, compassos afiadíssimos, precisos. A sonoridade confeccionada ao vivo pelo quinteto levantou o publico em aplausos e gritos. Melodias que ora ensaiavam melancolia, psicodelia e ao tempo todo enérgicas. Suaves timbres que explodiam ao final de cada frase seja essa de ska, bolero, tango, rock ou uma viagem qualquer. A banda Lisabi, formada por Dro (baixo e vocais), Slens (trompete e vocais), Math (guitarra e vocais), Mateo (guitarra e vocais) e Sebástian (bateria), apresentou canções do disco de trabalho intitulado Au Diable Les Bananes lançado de forma independente e vendido durante as turnês da banda pelos próprios integrantes, que na sua página no portal TNB prometem gravar uma k-7 pra você que não tem dinheiro nem internet para baixar as músicas. O quinteto repetiu o feito da Noite FdE/Noite Independente de abril, onde levaram consigo todos os aplausos, uivos, berros e calcinhas da noite e fizeram outra bela apresentação, de puro feeling, transversalidade artística em um ambiente acima de tudo sóbrio.

No intervalo um breve papo de Pedrinho, apresentador da noite, com o público. A mudança de uma cena ainda viciada em apreciar apenas o que lhe convém, tem lá seus caprichos, e a conversa foi no sentido de apoiar a galera do hip hop que continuava lá para prestigiar o rock – e vice-versa – pautando o entendimento que uma cena só se fortalece com a união de bandas e público.

Foto: Karina Delgado

Foto: Karina Delgado

Sobe ao palco o Danateia Rock, banda de riffs pesados, pegada grunge e blues na bateria de pulsos firmes de Felipe Miura, nas guitarras de Leo – descarrilhando solos – e Breno Marcondes e o peso das linhas de baixo de Renato. O quarteto fez história na cena local sendo uma das duas bandas selecionadas no Manancial – Festival Estudantil de Música – para tocar no #VaiSuldeMinas 2010, ambas produções do Coletivo Corrente Cultural. Em 2011, promessa de gravação de trabalho e seguimento na proposta de suas composições, prato cheio para quem curte o bom rock ´n roll. A banda aproveitou a oportunidade do Corrente Mostra para o lançamento de uma nova canção, com participação especial de China Trindad. É maravilhoso quando vemos gente nova na cena entendendo o que falamos sempre, daquilo tudo de união. A balada de muita poesia nos vocais de China e vozes blueseiras de Breno encantou a quem pode ver de perto. Emocionados por estarem no palco do teatro Benigno Gaiga – ou popularmente teatro da Urca -, palco que os revelou, o grupo fez uma homenagem introduzida pelo trecho de uma inspiração musical do quarteto seguida de mais música autoral e sem parar mais, só para breves comentários do vocalista saudando o público, o Corrente Cultural e encorajando os músicos a lutarem por seus motivos e suas músicas.