Mekanos: diário de viagem


Foto: Thaís Helena

Foto: Thaís Helena

Cristiano: A turnê começou com zebra: o show de Machado no dia 4 foi cancelado por causa da chuva. Saímos de Poços na madrugada de sexta pra sábado às 4h da manhã.

Victor: Saindo às 4 da manhã, só haveria atraso se, por exemplo, pegássemos um congestionamento na estrada que nos fizesse ficar parados por umas três horas. Pois não seja por isso, disse o cosmos: pegou fogo em um caminhão de tinta, e ficamos completamente parados. Ninguém se feriu, ainda bem, mas o procedimento escolhido pelos responsáveis pela estrada foi esperar o fogo apagar sozinho, e foram-se as três horas. Mas foi uma boa parada, no fim das contas. Saímos passeando pelo engarrafamento e vendemos cd pra dois motoristas, um da Cometa (que botou o disco para tocar no carro da frente – amizade de congestionamento) e outro de um caminhão-cegonha. Isso sem contar um outro rapaz que, ao ouvir o som tocando, adorou e prometeu fazer propaganda para seus amigos no Japão.

Gustavo: Com três horas de atraso chegamos a Sabará, na sede do Coletivo Fórceps, que é numa casa antiga cheia de quadros lindos. Descemos da van e encontramos a banda Aeromoças e Tenistas Russas, de São Carlos (São Paulo), fazendo um show muito massa, e também a notícia que eles estavam na última música – e que logo depois era a Mekanos. Com a cara um pouco amassada da viagem e sem comer direito pegamos os instrumentos na van e fomos pro palco na sala da Casa Fórceps. Entramos no clima do Grito Rock na mesma hora do primeiro acorde e foi lindo. Um show inesquecível, com a platéia olhando bem nos nossos olhos. A receptividade do público e do coletivo foi tão foda que acabamos vendendo dez cd’s e ficando com uma grande vontade de voltar pra Sabará.

Guilherme: Acho que vale citar um cara que estava catando latinhas do lado de fora da sede do coletivo Fórceps e que por acaso entrou e ouviu uma música nova nossa, “Na Areia”, e simplesmente amou a música. Achei muito da hora, porque ele realmente ouviu e gostou. Bem, depois do show, a gente pegou todos os suprimentos que o coletivo Fórceps nos forneceu, obrigado novamente, e fomos até a praça onde finalmente a gente conseguiu uma janelinha e aproveitamos pra comer. Para não atrasar novamente, entramos na van comendo e continuamos a viagem com destino a Ribeirão das Neves. Chegando lá, uma mini-zebra, o local tinha mudado por ameaça da chuva.

Victor: Era num palco de uma pracinha, que ficava em um cruzamento no centro da cidade. Seria legal tocar lá, bem no meio da cidade, com tudo acontecendo em volta. Mas, dentro de alguns minutos, descobrimos onde ir (era na Casa de Cultura de Neves) e fomos. O ambiente era outro: menos intimista, mais som e luz, mais gente, muitos deles fãs de metal. Muitos policiais também, talvez para garantir que o evento acabasse às 22h. Chegando lá, um quase déjà vu: o pessoal do coletivo Semifusa nos disse que o Aeromoças estava quase acabando o show e que entraríamos em seguida. Dessa vez eu consegui vê-los (em Sabará só vi de relance; no caminho até Neves fomos ouvindo o EP deles) e achei muito bom. O guitarrista e o saxofonista que eu tinha ouvido, ambos ótimos, são a mesma pessoa! E são todos muito legais também: nesse show de Neves, tivemos problemas com o baixo, e o baixista nos emprestou o dele.

Gustavo: Logo depois do belo show em Neves, colocamos os instrumentos na van e fomos passar a noite de sono merecido em Belo Horizonte nas casas de parentes nossos: Tia Sônia, Tia Andréa e Irmão Guina. Estávamos em onze pessoas, toda a produção da banda estava presente, por isso nos dividimos para a hospedagem. A canseira estava chegando, mas a sensação que a estrada estava nos trazendo um grande aprendizado era bem maior. Domingo era nosso dia de descanso da turnê Grito Rock 2011. Aproveitamos o tempo para recarregar as energias pros próximos shows, e pra passear pela linda capital mineira.

Guilherme: Após a van coletar todos de suas estadias, no domingo, passamos pelo BH Shopping para podermos almoçar. Depois de um tempo saímos de lá e acabamos parando na Praça da Liberdade, um lugar tranqüilo e ótimo de se passar o tempo. Após muita conversa sobre o que comer, onde comer, onde guardar a van e tudo mais… fomos até a casa da Tia Sônia e ela sugeriu um ótimo lugar para jantarmos (o Rangão). Juntamos todos e as mesas e tomamos conta do lugar, cada um pediu um lanche ou uma lasanha e fechamos a noite.

Cristiano: Na segunda-feira acordamos sem saber o que fazer. Talvez um pouco ansiosos com o show que faríamos naquela noite. Acabamos ficando em casa o dia todo, fizemos um almoço na casa da tia Sônia, e de lá já fomos para A Obra, um bar super legal, uma pequena e apertada escada leva a um salão bem underground, abaixo da rua. A recepção lá foi ótima, tanto por parte do coletivo Pegada, quanto por parte do pessoal do bar. A passagem de som atrasou um pouco, pois o Guilherme meu primo, que iria emprestar o baixo para o Guilherme Mekanos, atrasou. Então passamos o som e saímos do bar (que estava vazio) para o pessoal do Pegada levar-nos para comer em um restaurante com comidas muito boas! Quando voltamos para A Obra pra fazer o show (uma hora depois) o lugar estava cheio já na entrada, e lá dentro mais ainda. Uma surpresa pra nós! O show foi surpreendente, a começar por nós mesmos. A banda estava envolvida em uma energia ótima e o show fluiu como se estivéssemos em casa. O público foi muito receptivo e educado. Percebíamos que as pessoas estavam realmente prestando atenção em nós, e curtindo o que estávamos tocando ali. Isso foi maravilhoso!

Victor: Foi muito legal saber que estávamos tocando lá também. A Obra é um bar muito importante para a música independente – não só de Minas. Depois do show, fizemos uma divertida entrevista para a webrádio do Pegada. A terça-feira de carnaval, dia seguinte, foi outro dia longo e gratificante. Voltamos de Belo Horizonte e chegamos em Poços no fim da tarde. Pondo os pés no chão, recebemos a notícia de que uma das bandas previstas para a última noite do Grito Rock Poços não iria mais, e que tocaríamos bem mais cedo, e que a passagem de som era dali a uma hora. Já em paz com a correria, fomos ao NYP preparar o show. Chegamos ao bar, para tocar, lá pelas onze da noite. Eu comia uma maçã na calçada quando vi um bloco de carnaval (o “Em Cima da Hora”) vindo da rua à esquerda, cheio de gente fantasiada cantando e brincando. Do meio desse bloco, surge Gustavo Infante, sendo acompanhado e filmado por PC Belchior. O clima alegre continuava dentro do bar – muitos rostos conhecidos, na camaradagem surgida em torno da música e da cultura de Poços de Caldas através do Corrente Cultural.

Gustavo: Dos primeiros versos das músicas que iniciaram o show, uma grande surpresa: o público cantando uma música após a outra, com exceção das novas. Com certeza esse show foi a nossa maior prova da diferença que o Corrente Cultural está fazendo em nossa cidade. A música autoral sendo o foco dos ouvintes. A recepção de casa é muito forte e nos fez crer ainda mais no nosso som. Logo depois da gente o Havanna subiu no palco e mostrou que não tem brincadeira: som forte e impactante. O Grito Rock no carnaval fez a Mekanos ser ouvida por várias pessoas e mudou a nossa visão sobre a música feita no Brasil.