Lançamento de Corpo Cindido


Foto: Thaty Naila

Foto: Thaty Naila

A escritora poçoscaldense Rita Schultz lançou seu terceiro livro, Corpo Cindido, no último sábado de abril (24/04) durante a Feira Literária Internacional de Poços de Caldas – FLIPOÇOS. O Corrente Cultural esteve lá não só pra prestigiar seu novo trabalho, mas também para aprender com quem escreve rigorosamente todos os dias, já lançou três livros – dois de poesia e um romance – e tem mais quatro volumes engatilhados, à espera de tempo e recurso para serem editados. O livro Corpo Cindido foi editado e impresso de forma independente, já que a viabilização pelo incentivo de órgãos públicos e patrocínios, segundo ela, anda bastante precária.

Sua mais recente obra é uma ficção – gênero pouco utilizado por escritores de Poços de Caldas, uma vez que a opção da maioria sempre foi escrever sobre as memórias da cidade e da região – e também uma inovação no cenário literário local: aborda o êxodo rural vivido pelas famílias do sul de Minas, nas décadas de 1960 a 1980. Esta situação de mudança, de cisão com o ambiente bucólico e a ida para cidade, é um dos princípios de unidade de Corpo Cindido, que quer dizer corpo separado, dividido. Dessa maneira, a escritora propõe o livro em duas partes distintas: a primeira, o Feminino, mais sutil, e a segunda, o Masculino, mais firme e vigorosa. Através de pesquisa e da observação para criar principalmente a estrutura cerebral masculina, Rita Schultz explora as diferenças entre a fala, a linguagem, a comunicação e o pensamento do homem e da mulher. O narrador não toma partido de nenhum dos lados, e fica para o leitor a tarefa de criar sua própria conclusão.

A lenda Edelvais, sobre uma flor rara que na Europa simboliza uma “prova de amor”, também é contextualizada no decorrer do livro, relembrando as histórias que seu avô lhe contava. Quando perguntada por uma senhora da platéia se ela se considera uma contadora de histórias, Rita responde que sim, mas ressalta que o contador de história trabalha com um suporte de maior interação entre as pessoas, já o escritor é solitário. O escritor procura levar o leitor à surpresa, e para isso tem o aparato técnico necessário. Rita Schultz é professora de Literatura há anos, porém, há dois anos se dedica integralmente à escrita.

A poesia se faz bastante presente em seu blog (http://ritaschultz.wordpress.com), que é acessado por inúmeros leitores todos os dias, tanto do Brasil quanto de países estrangeiros, como Portugal, país do qual recebe mais contatos que aqui. A escritora justifica que escrever apenas poesias não mais a preenche como ser humano e optou pelo romance, lançando mão da prosa poética. Corpo Cindido foi criado e estruturado em (!!) 23 dias, sob noites em claro, deixando enciumada a família, que tem às vezes que a lembrar de se alimentar, quando está submersa no processo de criação. Após a construção desta “espinha dorsal”, ela passa para a etapa de elaboração e desenvolvimento do livro, dando à história e à leitura a sustentação necessária, bem como acentuando e descrevendo com minúcia todos detalhes.

O livro também carrega e expõe questões éticas. Trabalha com a questão do “amor romântico”, que segundo a autora sempre existirá, mas concorda que o romantismo pode limitar ou rotular uma obra. Rita Schultz não assiste televisão, quando não está escrevendo lê muitos livros, jornais, e acha a imprensa tendenciosa – diferente dos seus personagens lineares, criados a partir de pessoas com quem ela conviveu ou convive, e que não mudam de acordo com o enredo. O professor da PUC-Poços, Sibelius Cefas Pereira, quem fez a apresentação* de Corpo Cindido, também estava presente no lançamento. Além de agradecer a escritora pela oportunidade, engrandeceu a profissão do Escritor, que generosamente divide conosco, leitores, os caminhos pela qual a alma transita.

Corpo Cindido pode ser encontrado no site http://ritaschultz.wordpress.com por R$30,00.

Fale com a autora: ritaschultzm@yahoo.com.br

* termo técnico no mercado editorial; uma espécie de resumo da obra feito em no máximo 2 páginas, por uma pessoa com experiência na área, abordando os pontos mais relevantes.